Confissões de Mãe? Mãe de quem?
Polêmica: o livro da Maria Mariana - "Confissões de Mãe" -, e sua comentada entrevista à revista Época.
Ela começa dizendo que a maternidade anda em baixa, já que seus valores básicos não condizem com as exigências feitas às mulheres de hoje: que sejam competitivas e desenvolvam “agressividade e frieza”; que sejam "mulheres e homens ao mesmo tempo".
Mãe de quatro filhos, e orgulhosa de amamentar há nove anos, a atriz de 36 anos envereda por caminhos surpreendentes: diz que não acredita na igualdade entre homens e mulheres; que a emancipação feminina “teve seu momento”, mas “as necessidades hoje são outras”, e ainda pretende interpretar o desejo divino com a metáfora: “Deus preparou o homem para estar com o leme na mão”.
Quando o assunto é amamentação, assume um tom moralista ao declarar que “amamentar é para mulher que merece” – para, em seguida, emendar a lógica duvidosa segundo a qual mulheres que se preocupam com a estética estariam, automaticamente, bloqueando sua capacidade de amamentar. Científico?
Meteu a mãe no canto
Não acho que a Maria Mariana seja uma doida desesperada atrás de Ibope a qualquer preço, saudosa do sucesso que fez nos anos 90, e por isso danou a dizer besteiras em uma revista de grande circulação. Tampouco acho que seja uma entrevista corajosa de uma mulher cujas convicções não estão de acordo com o que a maioria defende como razoável. O que eu penso é muito simples, e está claro na própria entrevista, quando ela conta algumas cenas de sua história.
Os pais da Maria Mariana se separaram quando ela tinha 7 anos; filha única, foi morar com o pai. Desde pequena, ela era (ou se achava) muito madura e vivia entre os intelectuais, mas “sonhava com uma enorme mesa de família com aquela macarronada no domingo”.
Em outro momento, ela diz que sempre teve a obsessão de ter filhos.
E, finalmente: um mês depois de conhecer seu atual marido, engravidou.
Nunca soube da sua vida, mas, agora que contou à imprensa essas poucas ocorrências íntimas, estou certa de que a Maria Mariana não deu uma entrevista – ou escreveu um livro – sobre maternidade, mas sobre o seu próprio sonho, sua obsessão particular e subjetiva, como são as obsessões e os sonhos que qualquer um de nós tem todo o direito de ter.
Acontece que, em vez de botar a mãe no meio, ela botou a mãe no canto. E saiu dos eixos ao querer impor um caráter genérico à experiência que só diz respeito a ela, a mais ninguém. Medindo e comparando valores que não são mensuráveis ou comparáveis, contraria sua própria afirmação de que “maternidade é tirar seu ego do centro” – afinal, em seu discurso não se vê outra coisa senão a própria Maria Mariana, com um sonho realizado e um amor incondicional pela sua própria obsessão, manipulando questões psicológicas e sociais complexas com uma simplificação que é, no mínimo, precária e inconsistente.