terça-feira, 11 de agosto de 2009

Evento: criança não quer tomar banho

A verdade é que a minha cabeça produz lentamente, o que me impõe, teoricamente, certos procedimentos impraticáveis na vida real: querer trabalhar em silêncio, por exemplo. Doce ilusão, mamãe.

O telefone, a campainha e até o meu Windows com transtorno bipolar são fichinha perto do evento que consiste, basicamente, na minha filha empreendendo uma catástrofe aquática e sonora em vez de sim-ples-men-te to-mar ba-nho.

A cabeça das crianças de dois anos é fascinante e, ao mesmo tempo, de enlouquecer. Vejamos, não há nada de ruim acontecendo. É só um banho. Certo? Xampu, sabonete, Bob Esponja e água. Uma babá inacreditavelmente amorosa para ajudar. E a mãe querendo trabalhar no quarto ao lado.

Pronto, é isso. Por que alguém gritaria?

Pois as crianças gritam, sacolejam, movimentam-se do modo mais improvável e realizam façanhas cinematográficas a fim de exprimir um único sentimento: “não quero”. As crianças querem com muita força, é verdade, mas elas não querem com tamanha decisão e confiança que o nãoquerer chega a virar um verbo, uma palavra só. Nãoquero e fim. É só o início do meu tormento.

Trocaram o meu bebê, foi isso. Levaram a fofa da minha menina e puseram essa criatura espinhosa e ensaboada aí na banheira, virando cambalhotas em protesto e gritando duas oitavas acima do limite tolerável. Procura-se bebê seco, limpo e gentil, urgente. Vendo banheira. Vendo banheiro, apartamento, tudo!

Outra possibilidade: minha filha – a verdadeira, doce e carinhosa - é como uma bonequinha que muda de cor ao mergulhar na banheira. Só que ela muda de humor. E de cor também: as bochechas ficam vermelhas e o ambiente, cinza embaçado. E a minha paciência, roxa com bolinhas verde musgo, procurando o botão para reiniciar o dia, o banheiro, o apartamento, tudo!

Procuro minha filhinha duas oitavas abaixo. Procuro uma habilidade circense para educar, trabalhar, rir e não ter uma úlcera como hobby (para desopilar no trapézio?).

OBS: Me ocorreu agora que um dia ela vai ler tudo isso. Mãe, como assim “procuro minha filhinha duas oitavas abaixo?”. A mamãe estava brincando, filhota. E menos mal que vamos terminar a conversa ao piano e violão, com seu pai.