sábado, 5 de dezembro de 2009

Bolos de mães e filhas

Minha mãe me manda, por e-mail, a receita do bolo que pedi. Mas escrita por extenso: o procedimento vem todo esmiuçado, depois a manteiga, depois os ovos, e cheio de “ATENÇÃO!” para que eu não saia, atabalhoada e às pressas, adicionando coisa que não convém. Ah, ela me conhece.

Mea culpa: assassinei um bolo mês passado porque, olhando bem a cara da massa, e querendo adivinhar seu caráter, comecei a achar que... Foi minha ruína, "achar que". Não se deve julgar o caráter das farinhas - até porque se vingam, fui saber só depois -, muito menos tomar atitudes inusitadas diante do liquidificador (outro que, apesar do barulho todo, não passa de um cínico calculista). É fazer o bolo e pronto. Um bolo não é feito de ideias ou de intuição e, ainda que fosse, o meu daria trabalho dobrado, possivelmente virando biscoito, ou nem.

Escute aqui, bolo é pura química com medidas matemáticas, isso se eu quiser um resultado comestível. O bolo, só.

Tudo isso para, no final, minha mãe fechar as instruções com a seguinte ordem: “Mexer gentilmente”.

Rárá, ou não seria minha mãe...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Diga lá, mamãe!

Sabe aquela ideia genial que a gente, quando vê, pensa: como é que isso não me ocorreu antes? Pois é, Minha Mãe Que Disse. É uma loja virtual que traz as maiores fofices do mundo para os pimpolhos da nossa vida. E tome bom gosto! Dá vontade de comprar tu-do, principalmente o que não serve na minha filha. Que venha o Natal!

PS: Não conheço a autora da ideia pessoalmente e não ganho nada para divulgar, viu? É fofa demais mesmo!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Eu + 1 ano

O que dizer quando ligo o computador nesse dia tão lindo e vejo uma mensagem fofa do Laboratório “X” me felicitando pelo aniversário?

Eu li direito, laboratório?

Ai, filha. Tão querendo acabar com a mamãe. O que me restará? Vou botar um biquíni mínimo e passear de elevador, com aquela simpática luz fria acusando minhas curvas acidentais sem sinalização? Vou ouvir isso que chamam de “música eletrônica” e quicar no calçadão, sem rumo e sem ritmo, exibindo a raiz irretocável dos meus cabelos na frenética ousadia dos sem-noção?

Pedirei uma cerveja de garrafa e esperarei esquentar um pouco – para não doer os dentes -, e ficarei lembrando que conheci a Alemanha um pouco antes da queda do muro?

Argh!, vou fazer nada disso. Na dúvida, hoje vou falar as mesmas piadas de sempre e agradecer a Deus pelas suas risadas a granel. Meu presente dia sim, dia também.

sábado, 21 de novembro de 2009

Pegando intimidade com sanguessugas e as tripas da coruja doente

Simplesmente não entendo que o canal Discovery Kids exiba regularmente, às 8:30 da noite, o programa “As Aventuras de Bindi”. A apresentadora mirim interage com animais selvagens e, segundo a sinopse, essa série “tem a missão de informar as crianças e os jovens sobre as maravilhas do mundo natural, estimulando-os a praticar exercícios, manter uma vida saudável e adotar práticas para a conservação da vida selvagem.”.

Está bem. Bindi é filha de Stephen Irwin, um apresentador de TV australiano que era conhecido como “O Caçador de Crocodilos”. E digo “era conhecido” porque morreu em 2006, em uma de duas aventuras televisivas, vítima de uma arraia que, literalmente, perfurou seu coração. Cabe lembrar que esse homem causou polêmica, em 2004, ao alimentar um enorme crocodilo enquanto segurava seu filho - ainda um bebê de poucos meses! - no colo. Veja você.

Respeito o interesse do Discovery Kids por tentar incentivar a conservação da vida selvagem, mas as aventuras de Bindi passam longe do objetivo divulgado e me fazem zapear para o canal concorrente antes dos primeiros 10 segundos da “atração”. Numa das raras vezes que assisti, Bindi narrava a história dramática de uma coruja que estava muito, muito doente, enquanto o veterinário abria o peito do bicho em uma cirurgia que, segundo informavam, “era o único modo de salvá-la”. Minha filha viu as tripas da coruja e ouviu a voz fúnebre da narradora. Perguntinha: será que ela se sentiu estimulada a praticar exercícios físicos e cuidar da natureza? Não creio.

Para completar, vejam só que doçura a descrição do programa desta noite:

Título: Ilha do Diabo

“Espécies únicas de animais que habitam ilhas correm grande risco quando uma doença contagiosa atinge seu hábitat isolado. Bindi mostra os diabos-da-Tasmânia lutando contra uma epidemia que poderia aniquilar uma população inteira desses animais.”

Às oito e meia da noite. Para dormir com os anjos, não?

sábado, 31 de outubro de 2009

Querer bem perto

Filha,

amigo é uma pessoa que você quer bem. Querer bem é, geralmente, querer bem perto. Mas, no caso dos amigos e amigas, morar perto não é condição para continuar se querendo bem, nem mesmo para querer bem perto.

Mas como "querer bem perto" estando longe?

Uma solução é dedicar pensamentos. Sabe aquele chavão do rádio, "dedique uma canção a quem você ama"? Meu Deus, mas o que estou dizendo?! Você nem sabe que existe rádio, e eu aqui, com meus 127 anos de idade, explicando amizade à distância para uma geração que vai confundir mensagem SMS com fax, telegrama... e toda essa velharia precária do tempo da mamãe. Tá, voltemos à amizade.

Dedicar pensamento é aproveitar a carona de alguma lembrança que você tem com aquela pessoa e "viajar", no tempo e no espaço, fazendo de conta que o acontecimento em questão está se passando outra vez. Aqui, agora. Não como num filme, a que você só assiste, mas como vida mesmo. Participando.

Sendo ainda mais clara: pegue o amigo (ou amiga) que está longe, aperte bem apertadinho, amasse se for preciso, e jogue lá dentro do seu pensamento. Embole tudo em uma massa, o passado e o presente - e, de preferência, o futuro também. Assim, você lembra (o passado), sorri agora (enquanto está lembrando) e, de quebra, planeja reencontrar o sujeito ou a sujeita. Acrescente saudade a gosto, gargalhadas à vontade e não esqueça o mais importante: mantenha sempre abertas as possibilidades.

Amizade é um negócio que dura e não precisa guardar na geladeira. Aliás, nem deve. Matenha à temperatura ambiente que é mais garantido. De vez em quando, faça contato (não vou citar aqui os meios para não correr o risco desta carta ficar datada).

Por falar em contato, olha o que chegou hoje para você. É de uma amiga da mamãe; de verdade ela vive longe, mas tenho uma versão de bolso e levo sempre comigo. Não pesa nada, custa baratinho... E me dá cada conselho ótimo!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rápidas... como as crianças são

Querendo desenhar mais, mas não encontrando espaço: “Mamãe, me dá um papel seco?” [filha em gotas].

Chegando em casa, depois de ter passado um dia com os avós: “Sai, mamãe, eu gosto mais do papai!” [kinder ovo, espinho].

Enquanto trabalho: “Oi, mamãe!”, subindo na cama: “Olha, mamãe!”, pulando na cama: “Vem, mamãe!” [pingue-pongue].

Querendo usar batom: “Já sou adulta!”, querendo atenção: “Olha como eu sou um bebezinho!”, ameaçando comer sem talheres: “Au, au! Sou um cachorrinho!” [repertório de si mesma].

Calçando os sapatos: “Já sei fazer isso so-zi-nha!”, alguns segundos depois: “Me ajudaaaaa!”, um minuto depois: “Me deixaaaaa!”, dois minutos depois: “Posso ficar só de meias?” [querer-poder-conseguir].

Puxando conversa: "Que horas são, mamãe?". Dez e meia. "Que caro!!!" [time is money].

Com o dedo na minha pálpebra: “Mamãe, tu é beeem velhinha?” [agora fiquei].

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Em atraso

Eu não viajei, não! Estou por aqui, finalizando um trabalho que eu já deveria ter finalizado. E, como sei que já deveria ter postado no blog, fiquei com vergonha de aparecer antes e deixar um "oi" corrido. Bah.

***
Alou?

Filhota, um "oi" corrido é melhor que nada, viu? A pessoa fica preocupada! Você não liga, não dá notícias! Desde que decidiu estudar esse tal de... (preencher lacuna), tem sido assim. E quem é que segura o coração do seu pai, me diz? Me diz?

Alou?

Como é que eu agora vou defender o... (preencher lacuna), se o coitado já leva má fama só pela pretensão a genro, imagina só quem vai levar a culpa pelo seu sumiço? Não tem desculpa, minha filha. Mandasse uma mensagem de texto. Como assim, tendinite? Eu falei, contrabaixo não é instrumento para menina.

Sim, querida, mas eu tinha 16 anos!
23, dá no mesmo.

Tá bem. Mas não deixa de dar notícias! E olha, tá fazendo muito frio aí? Leve um casaqui...
ALOU? ALOU???
***

Ai, faz tão bem desabafar que eu aproveito e desabafo no presente, no passado e no futuro, tudo junto.
Põe na conta.

sábado, 10 de outubro de 2009

Três perguntinhas (para quem tiver saco)

Queria fazer uma pequena enquete com as pessoas que passam por aqui, mas sempre fico com vergonha de fuxicar a vida dos outros.

Anyway, como a blogosfera virou um grande fuxicamento-espontâneo-de-utilidade-pública, e trocamos experiências como se estivéssemos dividindo um chá das cinco (Aff! Como sou antiga!), lanço aqui três perguntinhas, e quem tiver saco pode responder ali nos comentários. Beijos e obrigada!

1. Onde você mora?

2. É gestante, mãe, pai, avó, avô, tentante ou nada disso?

3. Qual é a sua principal atividade? (Quis dizer profissional, mas também valem respostas bem humoradas para quem não quiser dizer).

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quando eu estava grávida

Há muitas moças grávidas passando por aqui, e outras querendo engravidar. Revisando material "antigo", encontrei esse trechinho do blog-no-meu-tempo-de-grávida, que reproduzo abaixo. Era janeiro de 2007 no Rio.

Quase

- Agora estamos na reta final!

O obstetra me olhava arregalado como quem espera qualquer reação. E eu, péssima em providenciar reações – bem como outros embrulhos para presente -, apenas empacotei o susto da iminência do parto numa vogal redonda como a minha barriga:

- Ô!

Estou com 37 semanas completas. Para os leigos: faltam só três. Como a Lara está ótima e não demonstra sinais de incômodo com o seu (meu? já não sei mais) habitat, diz o bom senso que ela deve nos brindar com o primeiro choro só lá pelo dia 22 de fevereiro, quinta-feira após o carnaval. Veremos.

Se estou assustada? Imagina. Preocupada? Tampouco. Dizem que estou até com cara de mãe. Sorrio muito, no fundo me agrada. E só.

Mentira, de madrugada eu entro em pânico.


***

Pois a Lara se antecipou e abriu alas no dia 13, a terça-feira anterior ao carnaval. Não consigo acreditar que escrevi aquele post há quase três anos. Minha vida deu uma cambalhota, mas continuo basicamente igual - felizmente, sem a barriga.

Se estou assustada? Imagina. Preocupada? Tampouco. Dizem que estou até com cara de mãe. Sorrio muito, no fundo me agrada. E só.

Mentira, de madrugada eu entro em pânico.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Birra de criança - como resolver?

Uma espectadora escreveu para o programa de TV contando a seguinte história: estava com o filho no shopping quando o menino se jogou no chão e começou a fazer birra porque queria uma bola. A mãe o deixou ali mesmo e, conforme suas palavras, “foi embora”. 20 minutos depois, anunciaram no microfone que um menino estava perdido, e ela foi buscar o filho. Segundo essa mãe, foi muito difícil “correr esse risco”. Mas concluiu: “foi a última birra da vida dele”.

Quase faço a piadinha infame: "Ainda bem, porque poderia também ter sido a última vida da birra dele". Que bom que eu não fiz a piada.

Agora falando sério, certamente ela não conseguiu conter a birra e partiu para uma solução, como ela mesma define, “de risco”. Fico imaginando que essa mulher deve adotar outras soluções “de risco” na sua vida – e, pelo visto, até agora o saldo tem sido positivo, pelo menos a curto prazo. Resta saber se haverá sempre microfones à disposição para garantir bons desfechos, ou se, algum dia, a opção de resolver a encrenca pelo “susto” vai acabar assustando a própria família, mais do que cumprindo uma função pedagógica supostamente adequada.

Aqui vai uma dica básica da especialista presente no programa: depois de 20 segundos, a criança já não lembra o motivo da própria birra. Então, não adiantará nada argumentar. A solução é sempre conter a birra no início, porque a tendência é virar uma bola de neve quase impossível de se controlar. Como interromper a birra? Distraindo a criança, chamando a atenção dela para outra coisa – imediatamente. Se for necessário, abraçar a criança de modo firme (para conter a birra e, ao mesmo tempo, oferecer a segurança: “eu estou no comando”).

Onde nós estamos?

Para além das questões objetivas de risco e segurança: quando minha filha faz birra, onde eu estou? Certamente, não estou nela. Pode parecer poético dizer que estarei dentro da minha filha, procurando entender seus desejos e perplexidades diante do mundo que se apresenta. Mas isso resulta, na melhor das hipóteses, em piada. Como neste vídeo em que a mãe resolve "dar o troco" no próprio filho.



É engraçado - porque é ridículo, além de ineficiente - nos colocarmos na mesma perspectiva dos nossos filhos. Ela vai fazer três anos e eu, 32. Assim como não é justo exigir dela a maturidade que eu tenho, também é injusto "fazer de conta" que somos a mesma pessoa. Ora, ela precisa de uma mãe! Se eu passar horas explicando que não pode lamber o chão porque é sujo, e mesmo assim ela quiser lamber o chão, e eu continuar argumentando - em vez de simplesmente impedi-la -, isso significa que nós duas estaremos, literalmente, comendo poeira. Até quando?

Até ela bater em uma amiguinha? Até humilhar um empregado? Até querer fumar maconha? E onde nós (pais) estaremos, afinal? Dentro deles não me parece ser um bom lugar.

Por outro lado, não me agrada a ideia de ensinar pelo choque, pelo susto, pela ameaça da minha ausência. Uma criança não se descontrola porque está "de sacanagem" com os pais. Somos um sistema, convivemos dentro da mesma casa - como posso achar que, subitamente, minha filha "recebe uma entidade" estranha e vira um monstrinho que treme e baba? Posso brincar que ela "se transformou", e até sentir isso por um momento, mas não posso, racionalmente, tomar uma decisão que pretenda lhe impor limites oferecendo a seguinte lógica: se a coisa apertar, minha mãe cai fora e eu tenho que me virar no mundo. Uma evolução (desastrosa) desse raciocínio seria: deixa eu ir dando um jeito enquanto sou criança, porque quando eu virar adulta é só fugir assim que surgir uma dificuldade. Nesse caso, a mãe correu para dentro dela própria e deixou que a sorte resolvesse a parada.

Não tenho a resposta certa, mas acho que o nosso lugar não deve ser dentro deles, e também não pode ser tão dentro de nós mesmos. Ideal seria se pudéssemos criar um novo lugar, no meio do caminho, próximo o suficiente para haver empatia e solidariedade, mas distante o suficiente para nos permitir respirar fundo e impor limites e restrições, segundo as regras que nós julgamos ser importantes. E arcar com as consequências.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ela já não gosta mais de mim

Aos 2 anos e 7 meses de idade, ontem ela me disse pela primeira vez, após ser contrariada (não pela primeira vez):

- Não gosto de você.

E ainda concluiu, sem que eu esboçasse reação alguma:

- Porque você é... feia.

- Então a mamãe vai ficar triste, filha.

- Ah. Fica feliz, mamãe. (Com cara de pouco caso).

- Só posso ficar feliz se você gostar de mim.

- Tá. Eu gosto de você. (Com cara de consolação).

É, foi isso. Mas eu gosto dela mesmo assim.

Mas eu não vou chorar
Eu vou é cantar
Pois a vida continua...


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Bah! Turismo no Rio

Outro dia, conversávamos no café da manhã, e eu dizia:

- Bah, filha, você viu que... (blá blá blá)?

E ela me respondia:

- Bah, mamãe! Bah... (blá, blá, blá).

Eu digo "bah" com uma frequência que os onze anos morando no Rio não abalaram, mas minha filha, que é carioca e só tem dois aninhos, não costuma usar a expressão gaúcha. Mas naquele dia ela achou divertido e saiu usando "bah" como se tivesse nascido nos pampas. Batemos um longo papo em gauchês, até que ela, muito compenetrada, subitamente questionou:

- O que é "bah", mamãe?

Dei muita risada, e para explicar foi difícil. Gaúchos nascem com o "bah" na garganta, e eu diria mais: nos olhos. Tudo que nos surpreende é bah; tudo que nos comove, assusta, constrange, desconcerta, bah, baaaaah! De alegria e de tristeza, bah. De sorte e azar, mas bah! De encontros breves e uniões eternas, barbaridade, sobre guerra e paz, pesadelos profundos e piadas rasteiras, bah, bah...

Se já é difícil definir o bah que dizemos, mais ainda é o bah que vemos.

- Filha, sabia que a mamãe nasceu em um lugar bem longe daqui?

- É? E você não demorou muito, mamãe?

Bah! Achei que ainda não era o momento de explicar a ela as tradições gaúchas. Chegará o dia.



Pão de Açúcar - Visto do Parque do Flamengo

**

Depois de vários dias de chuva, tivemos um fim de semana espetacular no Rio. E, depois de muitos anos, voltei a alguns pontos turísticos que me lembraram da primeira vez em que estive aqui, em 1987 (!).








(Vista do Pão de Açúcar)

Eu era uma turista-mirim absolutamente encantada, que jamais imaginava morar aqui um dia.

E muito menos ter uma carioquinha para chamar de minha. BAH!







Jardim Botânico

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O rabinho do Joaquim

Hoje ela viu um menininho fazendo xixi na pracinha.

- Olha, olha! O xixi sai pelo rabinho do Joaquim!

Chegou em casa, entrou no banheiro e foi logo perguntando:

- Cadê o meu rabinho?

Frase típica de pai: "Se eu pego esse Joaquim!".

Frase típica de mãe: "Se eu pego esse tal de Freud!".

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Tirar as fraldas - as minhas, inclusive

Cansei de ler dicas e mais dicas sobre como tirar as fraldas da criança. Perceber os sinais de que ela está pronta, ter paciência, ser constante, não fazer drama quando o xixi “escapa”, etc. Há quem diga que a estação do ano (calor) é fundamental; outros garantem que é irrelevante: se está na hora, está na hora e pronto.

Para além de invernos ou verões, penicos, adaptadores e eventuais acidentes, porém, encontrei pouco conteúdo relevante. Fico me perguntando se sou a única mulher maluca que fica pensando – e sentindo – várias coisas relativas à intimidade da minha filha nessa fase. Intimidade mesmo. As crianças são pessoas de verdade.

Ou será que nós, adultos, muitas vezes as tratamos como se fossem massinhas de modelar?

Processo compartilhado

Minha filha está aprendendo a controlar a saída de um material que, até então, poderia muito bem ser considerado um defeito de fabricação: misteriosamente, uma fralda branquinha saía suja e voava para o lixo em um ritual mecânico cuja parte que lhe cabia era mínima. De pernas para cima, observava tudo, resmungava um pouco e, depois, voltava a brincar como se nada tivesse acontecido.

Agora, não. Ganhou dúzias de calcinhas e um aviso: virou menina crescidinha. “Igual à mamãe” – ela própria repetiu e repete, certamente sem ignorar a quantidade de cabelos, pelos, tamanhos, vozes e volumes que nos separam. Virou a protagonista dos seus líquidos e sólidos, ao mesmo tempo em que – recentemente! – está começando a orquestrar sua própria imaginação ao inventar diálogos entre as bonecas. Controlar as coisas que saem do nosso corpo e lidar com as que entram na nossa cabeça: ufa!, confesso que até hoje me atrapalho um pouco...

É tão óbvio – mas quase ninguém fala – que o processo de tirar as fraldas é, assim como tudo na maternidade, compartilhado. Nós duas estamos “desfraldando”. Aliás, aqui em casa, nós três estamos. Por mais que as regras, dicas e toques sejam extremamente válidos na hora do aperto (literalmente), a verdade é que cada criança é uma criança e, além disso, cada relação mãe/filho e pai/filho é uma espécie de “entidade” que conta muito, eu diria que praticamente define o processo.

A intimidade e o mundo

Será que estou exagerando? Pode ser, sou dada a exageros. Exatamente por isso, não consigo deixar de sentir, na minha própria pele, uma série de questionamentos sobre como eu lido com a intimidade e como isso norteia a minha relação com o mundo. Por uma questão de responsabilidade, me pergunto: em que ponto pode começar o nosso relacionamento com o mundo exterior, senão a partir da intimidade? Alguma coisa me diz que o processo de retirada de fraldas tem a ver com isso.

Não tenho nenhuma sugestão, proposta, dica ou carta na manga para tornar essa fase agradável – ou, como desejaríamos, o mais breve possível. Estou recém no início e já me vejo atrapalhada e perplexa. Às vezes, tenho sérias dúvidas sobre estar infernizando minha filha com os “convites” a comparecer no vaso sanitário regularmente, que a mim já estão enchendo a paciência, isso que não tenho um baú de brinquedos a me esperar no quarto ao lado. De qualquer forma, como diz minha mãe, “com a maternidade a gente repensa as próprias convicções o tempo todo”. Isso vale tanto para as situações em que ela faz xixi no chão - e não sei que cara fazer - quanto para meus momentos mais íntimos, sozinha no quarto, escrevendo ou pensando na varanda... E não sei que cara fazer.

Crianças são pessoas de verdade, e de verdade nos ensinam que, às vezes, o xixi escapa. Nossa capacidade de respeitá-las e conduzi-las, com firmeza e consistência, vai nos transformando de adultos que somos em adultos que podemos ser. Como massinhas de modelar.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Casaquinho do Papai

Conheci meu marido, o pai da Lara, através de um texto que ele escreveu e andou circulando pela internet entre nós, músicos. O maestro escrevia sobre o absurdo da sexualização infantil no “funk” – que, naquele tempo, era considerado pela grande maioria dos “formadores de opinião” como uma manifestação cultural da periferia, contra a qual era difícil se posicionar sem levar pedradas. Pois ele foi brilhante ao atacar, com critérios incontestavelmente musicais, o tal do funk. Arrasou.

Como era colunista de um grande site de jornalismo e opinião, aquele artigo sobre o funk fez um enorme sucesso e dividiu opiniões, gerou debates, foi encaminhado para as listas de discussão de músicos e produtores, causou polêmica. Esta cantora que vos escreve bateu o olho no texto e mandou uma mensagem para dizer: até que enfim alguém disse o que todo mundo gostaria de dizer e nunca disse! Saudações musicais recíprocas.

Nascia ali uma amizade virtual e uma sincera admiração intelectual que, alguns anos mais tarde, transformou-se naquilo que eu procurava a vida inteira, mas imaginava que só existia nos filmes – e nem ouso definir com palavras, porque nessas horas eu sou nojenta de tão clichê. (Olha aí, acabei de ser outra vez...).

CORTA PARA
Setembro de 2009, Bienal do Livro




Eis o livro que ele está lançando agora. Chama-se “Os Casacos Mágicos do Theatro Municipal”, e eu já li umas dez vezes. Adoro o texto. Aliso as páginas. Já me peguei com vontade de pentear as vírgulas, beliscar as bochechas dos pontos e dar banho nos travessões, como fazemos com a nossa filha. Só tem uma explicação, a mais boba: o livro é muito fofo!

Ele conta a estória de uma menina chamada Isabela, que vai – meio contrariada - assistir a uma ópera no Theatro Municipal e acaba vivendo uma aventura mágica no camarim. Dá para sentir o clima nesses trechinhos que eu, descaradamente, vou copiar aqui sem pedir permissão:

“Quando saímos da estação do metrô, eu vi ao longe o teatro e o monte de gente em frente para entrar. Ele é bonito, alto, parece um castelo antigo, só que mais enfeitado e cheio de luzes. Mas também parece ameaçador. Três grandes tapetes vermelhos descem lá das portas pelas escadarias. De repente, eu vi o teatro como um grande monstro devorador de gente, com três línguas lançadas nas calçadas para arrastar todo mundo para a sua boca enorme.”

Já dentro do camarim...

“Comecei a ficar com medo. A sala estava vazia, quase sem luz, e nada da tia Vera voltar. Ouvi alguns sons de instrumentos e aplausos distantes. A música recomeçou. Será que ela tinha me esquecido aqui?

Foi quando ouvi um barulho de coisas chacoalhando e uma voz falando bem baixinho. Não entendi nada, nem vi o que era; numa daquelas estruturas para pendurar roupas, alguns cabides com diferentes casacos balançavam, mais nada. A voz falou outra vez, vinda não sei de onde, e agora eu entendi que alguém dizia: “é só uma menina”.
Como assim, “só uma menina”? Acham que é pouco ser uma menina? Fiquei braba e me levantei da cadeira.”


É ou não é?

Desculpem esta blogueira se pareceu um grande jabá em família. Fazer o quê? Desde que juntamos nossos casaquinhos, tem sido assim.
:o)

Tirando as fraldas

Sim, ela já faz cocô no vaso há algumas semanas (poucas). Mas ontem pediu para não colocar as fraldas, e insistiu. Ou seja, deu certo a super-campanha-subliminar-da-calcinha: há tempos, vínhamos dizendo que ela “já está uma menina crescidinha e, qualquer hora dessas, ia começar a usar calcinha igual à mamãe...”. Pois ontem ela pediu:

- Quero ficar de calcinha, mamãe. Igual a você.

Bingo! Expliquei as regras do processo. Poderia ficar só de calcinha, mas teria que pedir para fazer xixi quando tivesse vontade. Ela me olhou meio confusa, não senti a menor firmeza. Mas também não senti a melhor firmeza quando ela ensaiou os primeiros passinhos, as primeiras palavras... Seja o que Deus quiser, tirei as fraldas.

E fomos para o sofá. Ela se divertia e eu fazia figa. De repente, pediu água.

- Filha, você pode beber água, mas daqui a pouco nós vamos ao banheiro fazer xixi, tá bom?

- Tá bom, mamãe.

Bingo! Bebeu três goles d’água e fez xixi no chão.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Classificados do Casaquinho

Vendo corpo cansado e moído. Motivo: babá vai embora às sete.

Vendo mente exausta iniciando processo de sonolência leve, mas irreversível. Motivo: babá vai embora às sete.

Compro jantarzinho a dois, cinema com pipoca, declarações de amor à luz de velas, passeio de mãos dadas, passeio sem mãos dadas, chopinho com pastel no final do dia e até - por que não? - uma discussãozinha básica na relação.
Motivo: babá. Vai. Embora. Às. Sete!!!

sábado, 5 de setembro de 2009

Passeio na praia

Filha,
hoje saímos a passear, nós três, com você na cadeirinha da bicicleta do seu pai. Eu corria ao lado, e você me incentivava:

- Corre, mamãe! Corre mais!

Você e as suas mãozinhas de boneca segurando o guidãozinho. Você e seus olhos espertos procurando pássaros, cachorrinhos e nuvens no céu. Você e seu capacete rosa-choque, sua alegria, seu pai.

E pensar que saí para correr com meus fones de ouvido, mas corri ouvindo você cantar o samba da Maria Luiza...

Sentido da vida é aquela coisa que responde quando não estamos perguntando coisa nenhuma. É bonito pra chuchu.


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Evento: criança não quer tomar banho

A verdade é que a minha cabeça produz lentamente, o que me impõe, teoricamente, certos procedimentos impraticáveis na vida real: querer trabalhar em silêncio, por exemplo. Doce ilusão, mamãe.

O telefone, a campainha e até o meu Windows com transtorno bipolar são fichinha perto do evento que consiste, basicamente, na minha filha empreendendo uma catástrofe aquática e sonora em vez de sim-ples-men-te to-mar ba-nho.

A cabeça das crianças de dois anos é fascinante e, ao mesmo tempo, de enlouquecer. Vejamos, não há nada de ruim acontecendo. É só um banho. Certo? Xampu, sabonete, Bob Esponja e água. Uma babá inacreditavelmente amorosa para ajudar. E a mãe querendo trabalhar no quarto ao lado.

Pronto, é isso. Por que alguém gritaria?

Pois as crianças gritam, sacolejam, movimentam-se do modo mais improvável e realizam façanhas cinematográficas a fim de exprimir um único sentimento: “não quero”. As crianças querem com muita força, é verdade, mas elas não querem com tamanha decisão e confiança que o nãoquerer chega a virar um verbo, uma palavra só. Nãoquero e fim. É só o início do meu tormento.

Trocaram o meu bebê, foi isso. Levaram a fofa da minha menina e puseram essa criatura espinhosa e ensaboada aí na banheira, virando cambalhotas em protesto e gritando duas oitavas acima do limite tolerável. Procura-se bebê seco, limpo e gentil, urgente. Vendo banheira. Vendo banheiro, apartamento, tudo!

Outra possibilidade: minha filha – a verdadeira, doce e carinhosa - é como uma bonequinha que muda de cor ao mergulhar na banheira. Só que ela muda de humor. E de cor também: as bochechas ficam vermelhas e o ambiente, cinza embaçado. E a minha paciência, roxa com bolinhas verde musgo, procurando o botão para reiniciar o dia, o banheiro, o apartamento, tudo!

Procuro minha filhinha duas oitavas abaixo. Procuro uma habilidade circense para educar, trabalhar, rir e não ter uma úlcera como hobby (para desopilar no trapézio?).

OBS: Me ocorreu agora que um dia ela vai ler tudo isso. Mãe, como assim “procuro minha filhinha duas oitavas abaixo?”. A mamãe estava brincando, filhota. E menos mal que vamos terminar a conversa ao piano e violão, com seu pai.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Mãe em 140 caracteres

Via Twitter:

Momento ternura: ela deitada, e eu sorrindo em maternês sustenido escancarado.

Ela me olha fundo e vem com o dedinho: "sua ruga, mamãe". É.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A bertalha é pop, pero no mucho

Como surgiram muitas dúvidas, resolvi pesquisar a respeito da bertalha – que, a essa altura, já considero praticamente uma verdura cult! Realmente, parece que é mais encontrada no Rio de Janeiro. Mas não é um privilégio exclusivo dos cariocas; segundo fontes culinárias mais confiáveis do que eu:

“Originária do sudeste da Ásia, a bertalha é hoje cultivada na Índia, Malásia e Filipinas, mas também é vista em toda a África tropical, Caribe e América do Sul”.

Leia mais sobre a bertalha, com direito a foto e tudo, no ótimo blog Come-se.

PS: Descobri que a bertalha é ótima fonte de vitamina A. Por isso, deve ser consumida com moderação nos primeiros meses de gravidez, já que o caroteno não é facilmente decomposto pelo organismo da gestante, e seu excesso pode causar danos ao feto. Por outro lado, a verdura é ótima para combater as hemorragias do pós-parto.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Alimentação infantil: o sucesso da bertalha

A bertalha entrou aqui em casa tímida e nada confiante, mas acabou virando a estrela da estação. Vejam que bacana. Como vocês já devem saber, eu sou uma fera na cozinha: destruo, em questão de segundos, tudo que me proponho a fazer...

Brincadeirinha. Não é meu forte equilibrar sabores, assumo. Não sei ler as partituras culinárias e, quando invento de tirar de ouvido, sai um chiado meio duvidoso que a crítica – a começar pela autocrítica, garanto - não entende. Sendo assim, deixo a tarefa para quem está podendo: já que me casei com um homem que arrasa na cozinha, finjo que estou chorando por causa da cebola e me enfio no quarto para tocar meu triângulo em compasso quadrado. É o melhor que faço.

Mas, a bertalha.

Você sabe, a bertalha é aquela folha verde que nasceu para nos confundir a vida no hortifruti, já que lembra muito o espinafre. Para dizer a verdade, a maior diferença entre as duas é justamente o Popeye.

Isto posto, vamos aos fatos. Ninguém aqui achou que uma criança de dois anos fosse comer bertalha às colheradas e ainda repetir três vezes. Pois é o que acontece com a nossa filha. E o segredo é simples: bertalha com ovo.


Bertalha com ovo – a receita

Vou explicar do meu jeito, e por favor não prestem atenção aos termos técnicos. Seja o que Deus quiser. Você lava as folhas. Da bertalha. E tira os talinhos. Faz um refogado (com as folhas, não com os talos!).

Observação: não me façam explicar o que é um refogado, isso faz parte do módulo “Deixando de ser adolescente – a libertação definitiva do Miojo”.

Viu que a bertalha murchou, certo? Estamos no caminho.

Em outra panela, vamos fazendo o molho: uma colher de sopa de requeijão (mais ou menos, para um molho de bertalha), e vá acrescentando um pouquinho de leite até que a consistência esteja a seu gosto. Adoro essa coisa de “seu gosto”, porque me tira a responsabilidade de um possível desastre. Fogo baixo, tá?

Agora, o segredinho: queijo parmesão ralado. Vai dar um gosto especial, e nem precisa acrescentar sal nessa mistura, que já ficará salgadinha o bastante. Ou não, você é que sabe...

Uma vez que o molho esteja a contento, dá-lhe bertalha em cima dele. É misturar tudo e sentir o clima.

Agora, ponha tudo dentro de um refratário (é assim que chama?) e quebre ali dentro uns 3 ou 4 ovos. Leve ao forno alto até que os ovos estejam no ponto que você gosta, e prontinho!

Aqui em casa é sucesso garantido de público e crítica. Ao som do triângulo, então, nem se fala.

domingo, 28 de junho de 2009

Medos infantis - estreia em grande elenco

À noite, estávamos só nós duas em casa. Acabei de dar o jantar, e ela foi comigo levar os pratos na cozinha. Na volta, sem perceber, eu vinha uns passos adiante dela, que me seguia em silêncio. De repente me provocou, com a voz risonha:

- Mamãe... Cuidado com o lobo...

Na mesma hora, querendo entrar na sua brincadeira, mudei toda a minha postura e curvei o corpo, como se estivesse apreensiva. Dei uns passinhos, espiando a curva escura que leva ao corredor, atrás do piano, e caprichei também na expressão facial (receio).

Quando achei que estava arrasando no teatrinho, percebi que havia uma menina congelada atrás de mim. Ela mal respirava. Ficamos alguns segundos quietas – perdi o tom! -, até que ela fez escapar, com um fiozinho de voz:

- Sou eu, mamãe...

Imediatamente, dei uma gargalhada involuntária, que ela respondeu com um pulo, tão assustada que me deu peninha e fui correndo abraçá-la.

- Sou eu, filhota... Não tem lobo nenhum.

Ela havia me proposto uma brincadeira, que eu aceitei na hora, sem restrições. Tomei aquela advertência (“cuidado com o lobo”) ao pé da letra, embarquei na fantasia. Mas fui uma atriz razoável demais, ao menos para uma criança de dois anos, e acabei trazendo o lobo à razão: assustei a menina!

Talvez ela esperasse que eu impostasse a voz e ameaçasse: “Ora, ora, seu lobo! Cuidado com a mamãe aqui, hein? Vou fazer picadinho de você!”. Ou que eu cantasse “quem tem medo do lobo mau?”, ou que abrisse o piano e mostrasse a língua para um lobo musical imaginado, mas evidentemente impossível. Então, isto estaria claro: o lobo é impossível.

Não estou querendo dizer que haja uma maneira certa de brincar, e que eu tenha agido “errado”. Até porque os filhos crescem algumas semanas e a imaginação se transforma, os sustos idem, e o nosso relacionamento vai sendo construído sem roteiros a partir dessa brincadeira gostosa e seriíssima que é educar.

Mas a historinha do lobo que eu ajudei a inventar é ilustrativa, e alguma coisa me diz que isso é só o início. Ao longo da vida a gente vai sendo chapeuzinho, caçador, lobo, anão, vovozinha, bruxa...

Ser mãe é ter capacidade imaginativa e muito peito (sem trocadilho), porque não há ensaio e já estreamos em grande elenco.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Entusiasmo

Minha filha em vestido repolhudo balonê, de veludo vermelho. Uma coisa, e os bracinhos.

Pulava pelos corredores do shopping naquela alegria, o que é que eu posso dizer? Não é o vestido, não é o repolhudo e não é o balonê. São as crianças, seus bracinhos e as coisas que elas não seguram; rodam e sacodem, sem medida, enquanto ainda não estão despencando de sono.

Etimologia da palavra entusiasmo: “Deus dentro de mim”.

As crianças são máquinas de agitar Deus; espalham vida por tudo quanto é canto, liquidificam as certezas com suas dúvidas inéditas a granel. O gatinho na esquina é Deus, e o cabelo engraçado do vizinho, será? O nó na gravata, o pato no desenho que ninguém mais identifica, será que é Deus, escondido, ali?

Sim ou não, não tenho como saber. “Sim” e “não” era no tempo em que tínhamos paredes, teto, chão. Agora a casa voa, é vamos.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Casa bagunçada - mas não tarda!

Queridos,

estou voltando um pouco à casa original, mas é para promover melhorias na nova. Surgirei com novidades, aguardem!

Peço mais um pouco de paciência; o meu Núcleo de Apoio à Tecnologia da Informação anda um pouco reticente... hoho.

Das caixas para a imaginação


Sábado recebi um kit muito simpático da Johnson’s, da promoção “Hora do Sono”, que consiste basicamente no seguinte: na compra de um produto “Hora do Sono” + um produto Johnson’s Baby + R$ 8,99 – leva-se esse carneirinho de pelúcia e a promessa de um soninho tranquilo. Desde que seja cumprido o ritual recomendado pelo “Dr. Carneiro” (banho, massagem e carinho para ninar o bebê).
Quanto aos produtos, aceitei participar da promoção aqui no blog porque realmente uso e aprovo a linha infantil da Johnson’s. Aliás, eu própria costumo usar o xampu “Chega de Lágrimas” para tirar a maquiagem dos olhos, é ótimo e recomendo!

Já quanto ao ritual em três passos e à sensação de relaxamento causada pela “exclusiva essência Naturacalm”, acho tudo ótimo, cheiroso, válido e divertido. Esta é a parte informativa/objetiva do post.
Agora, vamos à parte subjetiva (ou: o que eu gostaria de dizer à minha filha).

***
Filhota,
as caixas costumam chegar. E, fechadas, parecem todas iguais.



Você pode abrir ou não abrir. Abrir a caixa é mais difícil do que não abrir, mas costuma compensar.
Primeira escolha.



Você pode olhar tudo que estiver dentro da caixa. Pegar, sentir, ler, gostar ou não gostar, agradecer.
Pode ficar com os produtos da caixa e seguir seus manuais à risca, ou pode imaginar alguma maluquice e inventar suas próprias regras de uso.
Segunda escolha.
Ao escolher imaginar, você pode querer molhar os pés para experimentar.
Terceira escolha.


Você pode, ainda, pedir uma mãozinha para agitar alguma parte do projeto que necessite de interferência externa.

Quarta escolha.


Nesse ponto, se estiver realmente empolgada, você pode virar de ponta-cabeça em nome de um objetivo maior.
Quinta escolha.

O resultado é irrelevante. Importam as escolhas que você fez, e o quanto se divertiu no caminho.
Mas uma coisa é certa: quanto mais distante o produto final estiver da caixa original, mais rica você estará. Basta comparar:

1.

2.
Que tal?

PS: A promoção do carneirinho da Johnson’ só é válida para São Paulo e Porto Alegre.

Veja aqui o site Hora do Sono, com mais informações e dicas sobre o ritual do sono com o bebê.

sábado, 13 de junho de 2009

Supermãe, uma vírgula

Filha, a mamãe já vai. Pera só um pouquinho que estou terminando de... Não pisa aí, menina! Olha o sapato novo. Olha, chegou e-mail do seu avô. Quanto farelo, meu amor! Não falei para comer no pratinho? Não, banana a gente não come a casca. A Branca de Neve gosta de espinafre, sim. Quem morreu? Ela só está dormindo, olha como ainda respira a... mosquinh... formig... QUERIDO, CORRE AQUI QUE TEM UMA ARANHA NO QUARTO DELA!!!

Quando vi, ele estava no topo de uma escada que arrumou não sei aonde, com um pano na mão e a vassoura na outra. Eu, esmagando minha filha contra a minha falta de coragem, agachada do outro lado do sofá.

- Mamãe, não estou conseguindo respir...
- Relaxa, minha filha. Solta o ar. Seu pai vai resolver tudo.
- Não tem ar, mammm...
- Respira, criatura. Isso é hora de brincadeira?

De repente ouvi um estouro, e aí sim, quase estrangulo a menina.

- Desculpe o atraso, dona Bíbi. E esse vento!

Era a babá chegando atrás de mim, imagine a minha cara. Dá licença que estamos resolvendo uma coisa séria aqui, mantenha distância, é perigoso, não pise aí, a Branca de Neve não come a casca da banana e os farelos do seu avô.

Finalmente, desce meu marido com a aranha na mão. Que era um guardanapo amassadinho, está bem, mas o pulo que eu dei não decepcionaria nem um rolo de papel higiênico pronto para dar o bote.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Só nós duas

Vivemos na mesma cidade, minha mãe e eu, mas em regiões diferentes e tão distantes que se pode levar, entre ida e volta, cerca de três horas na estrada. O resultado é uma saudade cumulativa, assuntos pendentes, conversas adiadas e muitos planos de um dia, quem sabe, talvez... Mesmo sabendo que, do jeito que a vida anda, só em sonho.

Pois o dia do sonho chegou, e fomos derramar nossas fofocas numa oportunidade bem real e preciosa: só nós duas, viajamos a São Paulo. Pronto, só nós duas. Desde o saguão do aeroporto até a sala de embarque; das nossas memórias aos planos para o futuro; do check in no hotel até as certezas inabaláveis que se desfazem, irônica e gostosamente, num bate-papo esparramado de gargalhada, angústia e fé. Só nós duas.

Nunca passei pela famosa fase de achar minha mãe uma chata, e desconfio que haja uma questão de geração a explicar o “fenômeno”: minha mãe trabalhava tanto, mas tanto que não nos dava tempo de sentir qualquer tipo de incômodo em sua presença. Sentia, sim, uma sensação de privilégio e felicidade quando ela estava por perto, e me divertia horrores com a sua inteligência, a vitalidade e o jeito de mulherão no corpo de menina. Quando eu assistia às aulas que ela dava, ficava sinceramente deslumbrada com a constatação: ela é linda e sabe absolutamente tudo, e esses marmanjos obedecem direitinho. Ela com aquele giz na mão, e eu me sentindo a própria filha da chefa.

E ela ainda me deixava ajudar a corrigir provas! Só as de marcar com “X”, claro.

Voltamos de São Paulo com os assuntos devidamente atualizados, e temos impressão de que tagarelamos tanto que até os garçons eram considerados inconvenientes ao esboçar qualquer questão de ordem prática.

- Não tá vendo que isso é uma conversa séria, ô? Como assim “gelo e limão”?

Depois de muita Coca quente e alguns quilômetros rodados a pé, não é que sobrou tempo para fazer umas amizades no Ibirapuera? Repare só.


PS: É claro que escolhemos as que não abrissem o bico, rolou todo um processo de seleção e as mais afoitas eram gongadas logo no primeiro pio. Shhhht!

domingo, 7 de junho de 2009

Dicas para uma boa refeição infantil

Uma leitora deixou comentário aqui, há alguns dias, e terminou pedindo dicas sobre comportamento durante a alimentação. A filhota dela tem um aninho e come direitinho, exceto quando está com... os pais!

Espero que você me perdoe a demora e a falta de cerimônia em responder aqui, via post. (Nem vou dizer seu nome, já que não pedi autorização!) É que sempre acho que as dicas podem ajudar outras pessoas; assim, vamos usando o blog como uma conversa colaborativa e bem mais interessante do que uma falação em mão única.

Como vocês sabem, não sou especialista em comportamento infantil – longe disso. Fica combinado, então, que meus palpites serão totalmente subjetivos, resultado de observação e experiência, além de alguma leitura (sou chegada a um manual de instruções, ninguém é de ferro!).


Rotina e rituais

Para o bebê, ter uma rotina é sempre muito importante. Na hora da refeição, acho fundamental. Sei que, às vezes, é difícil manter tudo igualzinho, como se fosse um ritual, mas o esforço pode valer a pena. Tente reparar se, quando vocês fazem parte da refeição, o ambiente segue sendo o mesmo de quando ela come com as outras pessoas: a “introdução” (parar de brincar, lavar as mãos...), as conversas (“agora vamos almoçar”) e a própria preparação da comida. Ela espera muito tempo enquanto a refeição é feita? A minha sugestão é: preserve os rituais. Mesmo que várias pessoas ofereçam a comida, ainda assim é possível manter a rotina do “evento”. Nos mínimos detalhes.

Estabelecer (e manter) as regras

Como você disse que já tentou de tudo, aqui vai outro pitaco: tente um pouco menos! Acho importante dar opções à criança, mas também é preciso impor limites; e, com um aninho, esse trabalho já produz resultados incríveis em poucos dias de empenho.

Se ela quiser escolher entre comer primeiro o arroz e depois o feijão, ou vice-versa, ótimo. Mas precisa ficar claro que ela não pode escolher não comer, ou não comer na cadeirinha (se essa for a regra na sua casa). Querer escapar da cadeira é muito natural nessa fase, porque elas estão transbordando de energia e precisam de espaço, movimento, liberdade. Por outro lado, se formos flexíveis demais, a refeição pode virar uma gincana onde a comida vira só um mero detalhe.

Estou de acordo com o livro da Encantadora de Bebês, que sempre cito aqui. Ela aconselha a tirar a criança da cadeirinha ao primeiro sinal de “mau comportamento”, nos seguintes termos: ok, então isso significa que você não quer comer e acabou-se a refeição. Após um tempo, dê mais uma chance e tente iniciar o evento outra vez, mas sem perguntar se ela quer comer. Apenas informe que está na hora da refeição, vamos subir na cadeira, etc. Se, mais uma vez, a criança se mostrar revoltada, desista. Tenha sangue frio e diga: tudo bem, você não tem fome agora, vamos aguardar até a próxima refeição.

Detalhe fundamental: não vale dar lanches, biscoitos e petiscos entre as refeições para compensar! Eu sei que não é fácil, mas acreditem: eu já testei. E funciona mesmo. Costumo dizer que criança que come pouco não me preocupa, comer mal é que é perigoso. Se ela tiver fome, vai comer. E dentro das regras estabelecidas, se conseguirmos ser constantes com a rotina e claras nas exigências. Sem exagerar, é claro.

Manter a calma

Mais uma citação da Encantadora de Bebês, dessa vez literal: “Depois de 1 ano, seu filho pode descobrir que o fato de não comer é uma arma que pode ser usada contra você. Se você for ansiosa, antes dos 15 meses ou mesmo antes ele controlará seus sentimentos. E, como você prevê que ele fará um escândalo a cada refeição, o ambiente já fica desagradável.”

Mesmo que nunca tenha havido escândalos, e que a situação não esteja tão grave, penso que vale o sábio conselho de manter a calma, respirar fundo e começar cada nova empreitada como se fosse a primeira vez. As crianças sentem “no ar” se os adultos estão inseguros, cheios de dedos ou temendo algum comportamento inadequado. Isso é particularmente difícil para mim, que tenho tendência a querer controlar tudo e prever todos os desastres possíveis à minha volta antes que eles aconteçam, para não ser pega desprevenida. Com a maternidade, tenho aprendido que essa é uma defesa que não protege. Pelo contrário. Em 100% das vezes, o melhor resultado se dá quando consigo me desprender do controle excessivo e, simplesmente, deixar rolar. Dou o tempo de ela experimentar, errar ou acertar, mas no tempo dela.

Sem jogos e persuasão

Durante as refeições, o ideal – ainda segundo a autora - é evitar os jogos e a persuasão. Se você tenta convencer seu filho a comer, e ainda demonstra ficar chateada se ele não aceitar ao menos uma colherada, ele entenderá que pode manipular os seus sentimentos com a (não) alimentação, e isso é péssimo. Não é que a criança esteja mal intencionada; ela ainda nem tem o discernimento para arquitetar maldades dessa categoria. Apenas age por uma simples percepção de causa e efeito: quando não como, mamãe fica chateada. E por aí vai montando seus tijolinhos, conforme oferecemos a liga.

Sem precisar de aviõezinhos ou empurrõezinhos, o melhor é tornar o assunto principal interessante – afinal, também queremos emplacar uma boa educação alimentar, e é bom ver os pequenos encantados com o verde do espinafre e o amarelinho do milho. Conversar sobre as características da comida é ótimo e concentra a atenção naquilo que interessa.

***

Vou parando por aqui, e volto a qualquer momento em edição extraordinária. Espero que meus palpites sirvam para as mães que estão passando dificuldades para alimentar seus filhos com tranquilidade. Se alguém quiser contribuir, comente aqui que eu incorporo as sugestões no próximo post!

Beijos e boas comidinhas.

Criativos, mas péssimos!

Vende em tudo quanto é canto, mas o melhor lugar para se comprar é: nenhum. Estou revoltada com esses baldes de “cubos criativos” da Gibi Brinquedos. Por fora, muito bonitinhos e coloridos. Por dentro, uma decepção. As peças não encaixam, o plástico é tão vagabundo que já vem tudo torto, empenado, cheio de irregularidades que, se fossem uma exceção, até tudo bem, era só descartar as peças ruins. Acontece que são mais de 60%! Consigo contar poucas peças que “se dão umas com as outras”, o resto é frustração; aperta daqui, salta de lá, escapa tudo e acabou-se a brincadeira. Sem exagero, fiquei com as mãos machucadas.

O famoso barato que sai caro. Fuja.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mãe aos 30 - do relevo às planilhas

Outro dia, li uma crônica ótima do Afonso Romano de Sant’Anna sobre chegar aos 30 anos. Entre outras coisas, ele dizia que aos 30 deixamos de viver no espaço e começamos a viver no tempo.

E ontem, enquanto me olhava no espelho e conversava em silêncio com alguns relevos-surpresa – dermatológicos e psíquicos, of corse -, caiu uma ficha besta: finalmente, entendi por que raios estou sempre atrasada, desde que minha filha nasceu. Primeira razão: mães cuidam de tudo. Roupas, acessórios, mochilas, comida, encrencas em geral. Como o Projeto Maternidade é coisa recente na minha vida, não tive ainda a habilidade de reorganizar meu tempo de modo a fazer caber o mundo de providências e a enxurrada de “crises” a tratar, das mais banais às dramáticas. Quero ser uma mamma italiana executiva descolada carinhosa eficiente bela e chique, mas alguma coisa me diz que me faltam as planilhas.

Isso, planilhas. Gosto de pensar que é isso que me falta, porque o relevo (relevante!), afinal, já tenho e ninguém tasca. Acho.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Confissões de Mãe? Mãe de quem?

Polêmica: o livro da Maria Mariana - "Confissões de Mãe" -, e sua comentada entrevista à revista Época.

Ela começa dizendo que a maternidade anda em baixa, já que seus valores básicos não condizem com as exigências feitas às mulheres de hoje: que sejam competitivas e desenvolvam “agressividade e frieza”; que sejam "mulheres e homens ao mesmo tempo".

Mãe de quatro filhos, e orgulhosa de amamentar há nove anos, a atriz de 36 anos envereda por caminhos surpreendentes: diz que não acredita na igualdade entre homens e mulheres; que a emancipação feminina “teve seu momento”, mas “as necessidades hoje são outras”, e ainda pretende interpretar o desejo divino com a metáfora: “Deus preparou o homem para estar com o leme na mão”.

Quando o assunto é amamentação, assume um tom moralista ao declarar que “amamentar é para mulher que merece” – para, em seguida, emendar a lógica duvidosa segundo a qual mulheres que se preocupam com a estética estariam, automaticamente, bloqueando sua capacidade de amamentar. Científico?

Meteu a mãe no canto

Não acho que a Maria Mariana seja uma doida desesperada atrás de Ibope a qualquer preço, saudosa do sucesso que fez nos anos 90, e por isso danou a dizer besteiras em uma revista de grande circulação. Tampouco acho que seja uma entrevista corajosa de uma mulher cujas convicções não estão de acordo com o que a maioria defende como razoável. O que eu penso é muito simples, e está claro na própria entrevista, quando ela conta algumas cenas de sua história.

Os pais da Maria Mariana se separaram quando ela tinha 7 anos; filha única, foi morar com o pai. Desde pequena, ela era (ou se achava) muito madura e vivia entre os intelectuais, mas “sonhava com uma enorme mesa de família com aquela macarronada no domingo”.

Em outro momento, ela diz que sempre teve a obsessão de ter filhos.

E, finalmente: um mês depois de conhecer seu atual marido, engravidou.

Nunca soube da sua vida, mas, agora que contou à imprensa essas poucas ocorrências íntimas, estou certa de que a Maria Mariana não deu uma entrevista – ou escreveu um livro – sobre maternidade, mas sobre o seu próprio sonho, sua obsessão particular e subjetiva, como são as obsessões e os sonhos que qualquer um de nós tem todo o direito de ter.

Acontece que, em vez de botar a mãe no meio, ela botou a mãe no canto. E saiu dos eixos ao querer impor um caráter genérico à experiência que só diz respeito a ela, a mais ninguém. Medindo e comparando valores que não são mensuráveis ou comparáveis, contraria sua própria afirmação de que “maternidade é tirar seu ego do centro” – afinal, em seu discurso não se vê outra coisa senão a própria Maria Mariana, com um sonho realizado e um amor incondicional pela sua própria obsessão, manipulando questões psicológicas e sociais complexas com uma simplificação que é, no mínimo, precária e inconsistente.

domingo, 10 de maio de 2009

Dia das Mães

Outro dia estávamos aqui, ela no meu colo querendo ver o Barney no You Tube e eu tentando responder a um e-mail.

- Espera, filha. Daqui a pouco a mamãe põe o Barney. Tô fazendo um negócio importante aqui.

Esperou um pouco, com evidente impaciência, e foi só eu tirar as mãos do teclado para beber um gole d’água que ela começou a batucar nas letrinhas, decidida.

- Que é que você está fazendo aí, filha?

- Tô procurando no Guuugo!

***

Pois então. Um feliz dia das mães para todas as mamães geeks!

PS: Impressão minha ou somos do tempo em que “busca” era uma palavra relacionada a algum caminho espiritual?
Ouvíamos música numa fitinha com dois furos, discávamos os números no telefone e usávamos abridores de lata para abrir garrafas de vidro?
(Esfregando os olhos:) Era assim mesmo?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A história das frutas no céu

Minha filha pegou uma gripe e está com uma tosse horrível, que “ataca” principalmente uns 20 minutos depois que ela se deita para dormir. É de cortar o coração vê-la acordar com aquela tosse que engasga, repete e vira um choro doído que só faz piorar o quadro. Corro até o quarto e ela me olha com aqueles olhos miúdos, Deus do céu, não há mãe ou pai que não se sinta um zero à esquerda por não poder fazer nada numa hora dessas, a não ser confortar.


A força do “S.I.M.” - Serviços Intuitivos Maternos

Já que estou falando de conforto, aqui vai uma especulação: serviços intuitivos podem ajudar. Outro dia, diante dessa situação horrível, e com ela no colo sem conseguir cessar o ciclo choro-tosse-choro, danei a contar uma história que inventei na hora. Era uma festa das frutas no céu.

Comecei a descrever a melancia chegando, com seu vestido verde e vermelho, depois a banana, a maçã, o kiwi e assim por diante. Cada fruta eu ia enfeitando com detalhes coloridos. Dizendo assim parece mentira, mas não é: ela parou de tossir em poucos segundos, foi se acalmando e prestando atenção na história, os olhinhos foram se fechando... Enfim, adormeceu. Todo o processo não durou mais do que três ou quatro minutos, e assim tenho feito a cada vez que ela chora com crise de tosse. É batata.

Depois foi que parei para pensar. Frutas no céu? Que maluquice tinha sido aquela? Por que eu teria puxado, de improviso, justamente uma história assim (e não assado)? Minha curiosidade literária – sem nenhum embasamento teórico, diga-se – não me deixou em paz, e passei a fazer uma análise subjetiva do que resolvi chamar de “S.I.M.”- Serviços Intuitivos Maternos. Foi divertido.

Se a minha necessidade, naquela hora, era dar conforto, vai ver criei uma festa de frutas no céu porque aquilo reunia vários elementos que eu queria poder dar a ela naquele momento. E, já que não podia proporcioná-los de fato, apelei para o poder simbólico. A saber:
- Frutas = frescor, saúde, variedade...
- Cores = divertimento, beleza, graça...
- Céu = paz, tranquilidade, descanso...

E assim por diante.

Além disso, minha micro-história só lida com categorias absolutamente conhecidas por ela (uma menina de 2 anos). Os elementos são familiares e fazem parte da sua rotina; talvez porque a demanda “gerar conforto imediato” não combine com “instigar novos desafios de linguagem”.

Outro ponto a se observar é a estrutura circular da micro-história. A fruta chega, é descrita em detalhes e, finalmente, entra na festa; depois chega outra fruta, e outra, e mais outra... E nada de suspense, clímax, pontos de virada ou qualquer coisa que desvie o rumo confortável, previsível, redondo e chatinho da conversa. Efeito sonífero!


Não acredito em bruxas. Mas que elas existem, existem

Finalmente, pode ser que todo esse exercício de pensar na minha micro-história improvisada como sendo um produto do Serviço Intuitivo Materno não faça sentido algum, e outros a considerem uma bobagem sonífera para marmanjo nenhum botar defeito. Tudo bem, não importa se as bruxas (e as mães) existem mesmo ou não. O fato, que pude testar e comprovar com experiência própria, é que há realmente uma cumplicidade saborosa e produtiva na delicada linha que nos une aos nossos filhos. E isso põe abaixo as fronteiras entre “realidade” e “imaginação”, já que o que realmente interessa é o afeto – quer coisa mais sólida e menos palpável do que isso?

Em outras palavras, é bonito pensar que ela, no desconforto da gripe, teve disposição para embarcar na minha historinha de frutas no céu. E é mais bonito ainda entender que eu, antes mesmo de perceber que ela possuía um barquinho, desembestei a falar – sem saber que já improvisava um riacho.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Adélia Prado - citando a fonte

Apenas completando a citação da Adélia Prado, que fez tanto sucesso por aqui: o texto pertence ao romance "Solte os Cachorros" - Ed. Siciliano, 1991 (texto original de 1979).






Por falar nisso, uma ótima sugestão de presente de dia das mães!

Refrigerantes "aditivados"

Existe um corante de nome lindo – o “amarelo crepúsculo” – que, vejam vocês, favorece a hiperatividade infantil. Segundo teste recente feito pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, ele está presente nos seguintes refrigerantes:

- Fanta Laranja
- Fanta Laranja Light
- Grapette
- Grapette Diet
- Sukita
- Sukita Zero

Esses mesmos refrigerantes também contêm o “amarelo tartrazina”, considerado de alto potencial alergênico.

Ponto, parágrafo.

Agora, vamos às notícias sobre câncer. Sete refrigerantes testados contêm uma substância potencialmente cancerígena - o benzeno. São eles:

- Sukita Zero (o caso mais preocupante, com maior concentração da substância)
- Fanta Light (o segundo caso mais preocupante)
- Dolly Guaraná
- Dolly Guaraná Diet
- Fanta Laranja
- Sprite Zero
- Sukita

Veja aqui a notícia e a tabela com os demais refrigerantes testados.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Adélia Prado - o melhor que a gente puder fazer

Ontem eu estava correndo na esteira, olhando meus cabelos espetados no espelho (precisando corte), suando em bicas e queimando os miolos atrás de certas soluções profissionais para questões urgentes, e com a mesma urgência me cobrando reflexões elaboradas sobre o problema que o homem do jornal na TV anunciava, e o convidado emendava uma explicação que não me convencia, mas era formado em Londres e o diabo a quatro, e meus cabelos sugerindo antenas que já quase tocavam o teto (ao menos assim imginei)...

Pois cheguei em casa, pus minha bunda na poltrona e fiz coisa bem melhor. Fui me aconselhar com Adélia Prado, escuta só:

“Eu tenho pra mim, depois que a gente tem filho só existe uma tarefa pra fazer: cuidar deles. O que está mais perto do amor de pai e de mãe é ódio de pai e de mãe. Que graça tem meu boteco prosperar se faltar alegria dentro da minha casa? Segue o fio da amargura das pessoas pra ver onde ele vai parar: esbarra no pai e na mãe. Não tou falando que bondade de pai e mãe acaba com o sofrimento das pessoas, não (...).

Eu só quero dizer que se a gente esforçar com decência, parar de pensar na gente, pra incomodar mais com estes que nós pusemos no mundo, eles vão dar conta de sofrer sem perder a esperança.”

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Para quem está pensando em engravidar

Uma amiga me contou que está pensando em engravidar. Acha que pode ser no fim do ano, ou não, ainda tem que refletir sobre alguns medos, conversar com o marido, fazer planos. Acendeu em mim uma luz colorida (vou ser “tia”!), mas depois comecei a pensar em algumas coisas para dizer a ela (luz amarela). E conselho é grátis, então vai aqui no blog para quem mais servir a carapuça.

Talvez porque eu não tenha planejado engravidar naquele maio de 2006 (tecnicamente, minha gravidez começou exatamente no domingo que foi dia das mães naquele ano - coincidência bonitinha), sempre fico pensando em como deve ser maravilhoso, seguro, produtivo e confortável programar a vinda de um filho. Logo eu, que abro uma planilha do Excel até para resolver quantas vezes por dia vou ali respirar na varanda, fico fula comigo mesma quando penso que deixei de curtir esta etapa do processo: prós e contras, pré-produção, orçamento detalhado, quadradinhos coloridos que dão ordem e racionalidade ao sonho. Teria sido tão melhor!

Por outro lado, uma parte de mim garante que eu ainda estaria debruçada em planilhas se a vida não tivesse me presenteado com o que eu julgava ideal para o momento de, finalmente, ser mãe: ter uma formação sólida, a carreira estável, a rotina tranquila e um casamento que nós dois desejássemos ser para sempre. Plim!, comercial de margarina.

Algumas dessas coisas eu conquistei hoje; outras ainda estão em processo. Mas posso garantir que o meu possível “filho planejado” ainda estaria engavetado em algum quadradinho do Excel neste exato momento, aguardando melhor oportunidade para nascer. E essa chance certamente seria adiada esse ano, porque penso em estudar mais um pouco, e para o próximo ano tenho planos de viajar, e no ano seguinte surgiria uma proposta irresistível que me tomaria um tempo danado, mas seria tão importante para a minha realização pessoal... Assim, sucessivamente, eu engravidaria de tantos projetos que não sei se haveria tempo ou disponibilidade para criar uma criança de verdade.

Por isso, vou dizer à minha amiga (já estou dizendo, ela me lê aqui) que tenha cuidado. Não penso que todas as mulheres devam passar pela experiência da maternidade, e, para aquelas que escolhem ser mãe, acho que deve haver um tempo de refletir, ponderar e então partir para o planejamento. Se a decisão for pelo “sim”, sou totalmente a favor das planilhas. Mas é bom ter atenção, porque a nossa geração cresceu enfileirando projetos pessoais e profissionais cujo objetivo principal era nos estabelecer na sociedade com a importância devida – uma conquista feminina apenas iniciada pelas nossas mães, mas que ainda requer muita dedicação pela frente. Acontece que não adianta muito você estudar, trabalhar e ler todos os jornais do dia para, ao chegar aos 30 e muitos, perceber que faltou um pedaço.

O outro perigo é a vontade de não crescer. É bom demais estar solta na vida, namorar sem compromisso e escolher o próximo destino de viagem com base no melhor apartamento entre os amigos que você conheceu pela internet. Mas o tempo vai passar de qualquer maneira, e achar que vamos segurá-lo pelas rédeas só porque não temos filhos ainda, desculpe. O próximo estágio é sentir-se madura, depois muito madura, depois tão madura que já não dará tempo de escolher.

E vamos às questões estéticas, tão em voga atualmente. Se está nos seus planos ser linda e gostosa enquanto seu fôlego e tônus permitirem, e pensa que engravidar ameaça suas curvas para sempre, boa notícia: é tudo besteira. Não são só as moças riquíssimas – que gastam um carro por mês em clínicas de estética – que podem recuperar o corpo que tinham antes da gravidez. Basta ter disciplina e fazer exercício que tudo retorna ao tamanho original, e pode até melhorar.

Retomando: o conselho só vale para aquelas que realmente querem ter filhos, e já não têm 20 e poucos anos.

Herdei da minha mãe uma auto-exigência surreal e a tendência a tomar decisões privilegiando a racionalidade. Tornei-me responsável e comprometida com as minhas planilhas interiores, característica que comemoro a cada conquista alcançada. Entretanto, às vezes é preciso colar o ouvido no peito para cessar os ruídos que a gente mesma produz, e escutar algumas vozes tortas que parecem não dizer coisa com coisa. Elas dizem, ô se dizem.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Se eu pego esse tal de Freud

Brincávamos de rolar na cama, os três. Papai deitou-se, e ela logo se aninhou em volta dele. Mamãe aqui ousou se enroscar junto, mas ganhou logo um cartão vermelho:

- Nããããão, mamãe, nãããão! (E me empurrava, incomodada).

- Quer dizer que eu não posso dormir aqui?

E ela, apontando para o meu travesseiro lá no outro canto:

- Dorme ali na sua vaguinha*, mamãe. Na sua vaguinha.

* Ontem eu brincava de carrinhos com ela. Estacionávamos as miniaturas em suas “vaguinhas”, e cada qual ia dormir no seu canto sem interferir no espaço alheio. Daí o termo, recentemente adquirido, e agora aplicado de forma a expelir o único objeto não desejado do sistema: no caso, euzinha.




Lição do dia: não basta ser mãe; tem que respirar fundo e ser também Total Flex...
Mas cada um na sua vaguinha, please.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Curtinha

Ontem: ficou meia hora aninhada no meu colo, que delícia tão rara.
Hoje: "mamãe, eu fiquei com medinho da mariposa".

O anel que tu me deste...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Velhice

Escovei seus dentes, troquei sua roupa, fechei as cortinas e avisei:

- Agora o papai vai levar você para a caminha, tá?
- Hoje a mamãe não vai levar?
- Não, filhota. Hoje o papai vai levar.
- Hoje a mamãe tá velha?
...
Um corte de cabelo e um chocolate, please.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Onde ela ouviu isso?

* Ela passou o fim de semana com os avós, então volta para casa falando gauchês: “tu quer geleia, mamãe?”. Bah, tri bonitinha.

* Ainda sobre a influência dos avós. Hoje ela viu um avião passando e disparou: “Olha pra frente, Araújo!”. (Alguém se lembra da clássica crônica do Luiz Fernando Veríssimo que narra o pânico de um sujeito ao viajar de avião pela primeira vez? Quando ouve a voz do piloto dizendo “Aqui fala o comandante Araújo; à direita, vemos blá blá blá...”, o passageiro não se contém e grita “Olha pra frente, Araújo!”).

O fato é que isso acabou virando um bordão na nossa família, e eu hoje caí na gargalhada ao perceber que ela, sem mais nem menos, “trouxe o Araújo” da casa dos meus pais.

* Batendo papo com as bonecas:

“Joana, vou botar você aqui no cantinho, tá? Sofia também. Todo mundo tem que sair do carrinho porque eu vou limpar o carrinho que tá muito sujo. (E concluiu, em tom professoral:) Não gosto de su-jei-ra!”.

Onde será que ela ouviu isso?

***
Ouvido infantil


Não é a fala de uma criança que nos desestabiliza: são seus ouvidos. Elas ouvem demais – hábito que nós, adultos, muitas vezes “esquecemos” um pouco – e acabam dizendo as coisas mais incríveis, mas que, se pensarmos bem, são puro resultado de uma audição atenta e apuradíssima.

Não deixam passar uma vírgula; estão apreendendo full time e não brincam em serviço.

Observam e captam, depois semeiam e reproduzem a seu modo.

Às vezes, fazem conexões lógicas aparentemente simplórias, mas que acabam revelando muito mais sobre nós mesmos do que os discursos elaborados que repetimos há anos e sequer ouvimos direito.

Ter uma criança em casa é como ter um grande ouvido ambulante, e eu acho o máximo quando a família consegue aproveitar essas anteninhas privilegiadas para também se ouvir melhor, sem aquelas interferências da “maturidade” e da “experiência” (no pior sentido: quando caímos na cilada de achar que vivemos o suficiente para ter as respostas arrumadinhas na sapateira por ordem de tamanho, cor, ocasião social...).

domingo, 5 de abril de 2009

Sapatinhos de bebê

Acabei de adicionar (ali do lado) "Mãe pega no pé?" - uma pequena fotonovela de sapatinhos de bebê.
Um oferecimento "Leve um Casaquinho", já em clima de dia das mães!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Funk e filhos

Soube hoje: a "funkeira" Tati Quebra Barraco tem 29 anos e uma filha de 15. Está bem. Acontece que a menina pariu ontem Cauã, 47cm, 3.100kg.

Tati Quebra Barraco tem 29 anos e é avó.
Cauã, o neto da funkeira, autora dos seguintes versos:

O que tu quer eu vou te dar
é só você me seduzir
porque eu sou a Quebra Barraco
e tô pronta pra sacudir

E de fato, parece que a família sacudiu.

Consulta com a odontopediatra – 2 anos

Ela estava ouvindo desde ontem “nós vamos à doutora olhar seus dentinhos” e se mostrava animadíssima, mas hoje mudou rapidamente de ideia assim que chegou ao elevador (?). Não queria subir de jeito nenhum. Apelamos para os brinquedos que ela iria rever no consultório, blá blá blá, enfim, embalou.

A secretária abriu a porta, ela viu os brinquedos e já saiu dizendo que era tudo dela. É típico da idade, mamãe, tenha calma. Mas foi só avistar o ambiente todo branco do consultório e já grudou nas pernas do pai. Aqui devo fazer uma confissão: esta menina é tão agarrada ao pai que me causa certo constrangimento quando algum desconhecido supõe que eu, diante de alguma situação tensa, vá servir para acalmá-la. Que nada, é com o pai e não há Cristo. Até me presto a fazer o tipo “mamãe recreativa”; invento caretas e faço barulhos inexplicáveis com a boca, enrolo a língua, polichinelo, o diabo. Na melhor das hipóteses, suspeito que a imagem que levará em seu inconsciente será de uma mãe figurante, no canto esquerdo do vídeo, arriscando macaquices de gosto duvidoso – mas, convenhamos, é melhor que nada. Sentou-se no colo do pai, e o pai na cadeira da dentista, e eu a pipocar em volta contracenando com hipopótamos e arcadas dentárias.

Entretanto - e felizmente -, a doutora era mesmo craque. Em menos de 15 minutos, estava uma com a mão dentro da boca da outra, e para minha surpresa: a maior examinava a menor, exatamente como manda o protocolo. Ufei (do verbo ufar, de ufa!) e saí de fininho assim que acabou a consulta, afinal, os dentes estão em dia e a gengiva é um luxo só. Detalhe: saí sem pagar, porque esqueci o dinheiro em casa. Pensando bem, a doutora devia ficar feliz porque eu nem cobrei cachê...

Anyway, vou ali fazer um depósito e já volto. Alguém viu meu hipopótamo dentuço?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O jogo do choro – “Crying game”

A verdade é que ninguém nos ensina a dosar a atenção que damos aos nossos filhos. De repente ela aparece pedindo que eu veja o bombom de massinha de modelar que acabou de fazer para a boneca Sofia, e aquilo lhe parece tão urgente quanto uma dor aguda qualquer. Ela quer que eu veja, resolva, solucione, aprove ou reprove o bombom de massinha. Agora!

Quanto disso é urgente mesmo? Quanto é mero capricho? Quanto devo limitar; quanto posso ceder e dar a atenção, mesmo que por um minuto? E, ainda, um lado muito pouco abordado da questão: quanto de mim está realmente disponível nesse momento? Sim, porque sou mãe, mas não sou feita 100% de maternidade.

Negociar com criatividade, estabelecer limites, pensar e plantar as normas que vão começar a reger o comportamento social daqui em diante – e ainda cuidar do pedaço "mim-mesma" dessa história. Trabalho pesado! E olha que ela só tem dois anos.

E olha que ela já tem dois anos.

PS: Por falar em comportamento infantil (em especial, a demanda por atenção), este vídeo é imperdível.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Vomita-se

Foi de repente. Parecia um resfriado, o narizinho escorrendo, eu arrisquei: deve ter sido um choque térmico. Na mesma noite começou uma pequena febre, e a madrugada foi em claro no colo do pai. Os vômitos, a diarréia, o nosso susto e a tranquilidade do pediatra no telefone: todo mundo está tendo isso, é uma virose. Hum.

Nada foi tão grave, não houve febrão e ela nem ao menos perdeu o bom humor. Só ficou caidinha e um pouco assustada - nunca tinha vomitado antes. O fim de semana foi complicado.

- O que a Lara fez, mamãe? – perguntava, olhando a “sujeira” à sua volta, e visivelmente constrangida.

- Você vomitou, filha, e não tem problema. É assim mesmo. Vomita-se.

- Vomita-se. Vomita-se.

- Isso, querida. Vomita-se.

- Vomita-se. (Os olhos arregalados, repetindo a expressão de consolo que certamente não lhe diz nada, mas, pelo menos, desvia a sua atenção para um vocábulo novo. Já que não posso oferecer chocolate mesmo.)

Mas já está muito melhor, bola para frente. E vamos falar de coisas boas, urgentemente.
Necessita-se.

terça-feira, 10 de março de 2009

Gravidez precoce, consumismo, alienação... E a chave da casa

O documentário “Criança, A Alma do Negócio”, de Estela Renner e Marcos Nisti, mostra relevância e nos causa uma justa preocupação já no trailer (abaixo).



Assim que acabei de assistir ao vídeo, imediatamente me lembrei de uma reportagem que li esse fim de semana no Globo. Assunto: crianças que trocam horas de videogame por livros com mais de 300 páginas. Nas entrevistas, exibindo seus livros “grossos” e contabilizando as histórias já sabidas, os leitores mirins demonstram ser crianças absolutamente normais. Nenhum gênio, nerd ou partidário do isolamento social. Um deles confessou ter lido durante um recreio, na escola, mas não gostou. É consenso: o melhor lugar para ler é em casa.

Muitos devem ter pensado: “mas esses são a exceção da exceção, a maioria prefere encher a cabeça e o estômago de tranqueiras inúteis que geram dependência, doença, alienação...”. Acho que é justo, humano e produtivo direcionar os holofotes para aquilo que nos incomoda, mesmo que cause preocupação, culpa, pânico. Iluminar ajuda a pensar, avaliar e propor novas saídas para antigos e novíssimos problemas.

Mas havia, no final daquela reportagem, um pedacinho de frase que revela uma das chaves, talvez a mais simples e delicada do trabalhoso processo de educar. Uma menina contava: “Gosto de ler antes de dormir, no quarto, quando meus pais estão lendo.”.

Crianças aprendem, antes de tudo, por imitação. É preciso jogar luz no exemplo – a nossa verdadeira “chave da casa” -, e parar para refletir até que ponto as nossas ações são condizentes com o nosso discurso, independentemente da mídia, da indústria, do comércio, das tias, dos primos, dos amigos e demais influências a que estamos sujeitos. Não é nada fácil (quem gosta de se criticar? E quem consegue mudar velhos hábitos?), mas me parece fundamental; de outro modo, estaríamos sempre acusando o “mundo externo”, estupefatos e indignados no espinhoso desconforto da nossa poltrona de espectadores.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Maternidade insubstituível

Ontem eu ouvia no rádio uma conversa sobre câncer de próstata, quando alguém perguntou ao especialista o motivo de existirem tão poucas mulheres urologistas no Brasil. O médico respondeu que certamente há resistência por parte dos pacientes em serem examinados por mulheres – embora ele afirme que, ao contrário do que se poderia imaginar, as médicas não têm nenhum constrangimento, e mesmo as jovens residentes examinam homens com a maior naturalidade.

Continuando a mesma resposta, ele observa ainda que as médicas geralmente optam por especialidades como a dermatologia ou a radiologia (que não envolvem cirurgia), por considerarem que essas atividades lhes darão tempo suficiente para, além de cumprir a carga de trabalho, também cuidar dos filhos. E concluiu dizendo algo como: “assim, elas podem trabalhar fora e também exercer a insubstituível função da maternidade”.

***

Deméter - deusa grega da fertilidade

É verdade que a maternidade é insubstituível, e nenhum homem poderá ser mãe, pelo menos não tão cedo. Mas será mesmo uma função? E será que isso que se chama de “função” da maternidade é, de fato, algo que só pode ser exercido pela mãe?

Teria mil perguntas para emendar aqui. A questão é realmente complexa, e viver esse “exercício” materno, dia após dia, nos faz transitar pelas supostas convicções, deslizando entre argumentos racionais e picos emocionais que não estão sujeitos a classificações hierárquicas: “você fica aqui, querida tristeza etérea, que eu vou ali me dedicar ao aprimoramento intelectual das minhas verdades rochosas. E não me espere para jantar... Conversamos amanhã, isso se me sobrar um tempinho.”.

?


sábado, 7 de março de 2009

A hora de ser pavãozinho

Garotinho de cinco anos brinca com a minha filha, de dois, na piscina infantil. Como todo garotinho (de até 90 anos, hoho), quer se exibir. Olha como eu sei fazer isso, olha como eu sei fazer aquilo, etc. Fico dando atenção aos dois ao mesmo tempo, já que sou a única adulta com os pés na água.

“Olha que bacana, filha, o fulaninho está nadando assim ou assado” -, digo a ela, e nunca sei se é por gentileza com o filho alheio, ou porque de fato estou me interessando por aquilo, ou porque acho que ela está, ou porque penso que deve ser “recreativo” ou “estimulante” ou simpático dizer o que estou dizendo. Enquanto observo minha filha e o pavãozinho de cinco anos na piscina, fico me perguntando se isso ou aquilo o tempo todo.

Vou avisando: é chato demais ser assim. Eu queria era ser um pouco mais pavãozinho, enfim, mas isso não vem ao caso.

O guri é um doce, bem educado, sadio, normal. Minha filha, idem. De repente, ela me pede para botar uma cadeirinha de plástico dentro da piscina, e eu atendo. Ela começa a brincar na cadeirinha e o garoto, óbvio, se interessa. Breve momento de distração dela, ele me pergunta: posso pegar? Permito.

Ele começa a inventar manobras elaboradas com a cadeira e me mostrar, enquanto minha filha fica olhando, ora admirada, ora distraída. Ela se volta para o lugar onde estava a cadeirinha “dela” antes e faz uma carinha triste/interrogativa ao perceber que sumiu. Mas permanece calada.

- Filha, você quer que a mamãe pegue outra cadeirinha para você?
- Quero.

Pego a outra cadeirinha e ponho na piscina para ela. Mal começa a brincar e o menino, para mim:

- Eu também consigo brincar com as duas. Será que ela não quer mais essa aí?
- Acho que ela ainda quer, sim...
- Quando ela não quiser mais é só falar que eu pego, tá?
- Tá.

Mais uma vez ela se distrai, e o menino aproveita para pegar a cadeira. Agora ele está com duas e ela, com nenhuma. Eu fico olhando a carinha dela para tentar descobrir se ficou chateada – em silêncio, decidi que só interferiria se ela demonstrasse alguma frustração. Mas ela não demonstra, pelo menos não naquele momento.

Aqui eu deveria ter perguntado: filha, você quer que a mamãe pegue outra cadeirinha? Você quer pedir a ele que devolva a sua?
Você quer que eu peça, que eu exija, que eu tome as duas cadeiras das mãos dele?
Eu deveria ter investigado, deveria ter me disposto a – simplesmente – perguntar?
Será?
Filha, você quer que a mamãe saiba o que dizer e como agir?
Você quer uma mamãe mais experiente e menos boboca?
Você quer uma mamãe que não escreva sobre isso? Você quer uma que engula as coisas e pronto? Você ficou chateada? As mães sempre sabem o que dizer? Deveríamos saber?
**
Logo nos distraímos e brincamos de outras coisas na piscina, inclusive com o pavãozinho simpático, e depois demos “tchau”, e tomamos nosso banho, comemos e assim por diante.

De noite, só nós duas no chão do quarto. Ela empurrava uma motinho verde e fazia questão de dizer “essa moto é minha”, várias vezes. Resolvi provocar:

- Empresta para a mamãe?
- É minha! - E escondeu entre as mãos, cruzando os braços.

Peguei massinha de modelar verde (a mesma cor da moto) e fiz um bonequinho. Comecei a conversar com ela, com voz de bonequinho, e perguntei se ela emprestaria a moto para “eu” (o bonequinho) dar uma volta. Sequer rolou um esboço de negociação: era não e não e não, a moto é minha, minha!

E o engraçado é que ela pegou simpatia pelo bonequinho, e começou a conversar com ele e a mostrar as coisas que a moto dela fazia. “Olha, a minha moto anda sozinha! Olha, ela anda em volta! Olha o banco dela. Olha as rodinhas.”

Talvez tenha chegado a sua hora de ser pavãozinho, e era mais seguro com um bonequinho de massa do que com um “gigante” desconhecido de cinco anos de idade.

Faz todo sentido, filhota. Insegurança à parte, o melhor que faço é observar e observar.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Meu irmão e eu


Um dia, depois de muito adiar a “confissão”, meu irmão finalmente tomou coragem:

- Mãe. É que eu fico com pena da Bíbi. Mas a verdade é que eu não gosto mais de brincar de Playmobil.

Eu sou a caçula, três anos e meio mais nova. Somos só nós dois. E só Deus sabe como eu aluguei meu irmão nesta vida. Caçulas alugam.

Minha mãe já sabia que ele não gostava mais de brincar havia muito tempo. Mas eu era tão empolgada com as brincadeiras, e tínhamos um nome e uma profissão e uma família e um plano de vida esquisito para cada Playmobil, e construíamos cidades, planejávamos viagens, elegíamos líderes, apostávamos corridas - tudo isso no chão do nosso quarto, dias e noites a fio, até a hora de reclamar porque deveríamos dormir.

Decerto ele ficava me olhando e pensando: mas ela ainda curte tanto, como é que eu vou desmontar essa coisa imensa que eu mesmo ajudei a construir? Deixar a guria perguntando e respondendo sozinha, tem graça?

Nisso ele tinha toda a razão: não tinha graça nenhuma brincar sem ele. Tanto é que, depois que os Playmobil se aposentaram, perseguimos os mesmos interesses (música, música), embalamos nossos sonhos e planejamos nosso futuro no mesmo tom, fizemos as malas e fomos morar juntos em outro estado. Meu irmão e eu. E até hoje eu penso que alguns bairros de distância entre nós são um exagero sem precedentes, deveria existir um tapete mágico, uma flauta encantada ou uma motoca de Playmobil que automaticamente nos transportasse para o chão do nosso quarto, plim!, seríamos crianças outra vez, e eu seria a caçula mala que pergunta o que vem depois do número mil.

PS: Pesquisando sobre os bonecos, fiquei sabendo que morreu, no dia 30 de janeiro passado, o desenhista industrial alemão Hans Beck, considerado o “pai” do Playmobil. Aos 79 anos. Valeu, Hans.
Daqui.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Curso de bebê - flashback

O texto abaixo é dedicado à MT, grávida de 27 semanas, e ao Caetano, que deve estrear neste mundo em maio.

Foi extraído do meu outro blog, do tempo em que eu estava grávida, mais ou menos na mesma fase da MT hoje. E, como ela, levemente ansiosa.

PS: No fim, tudo dá certo. Dá, sim.

Histeria e Curso de Bebê

Vamos fazer um curso de bebês. Dois sábados seguidos, na maternidade onde vou ter a Lara. Ai, meu Deus. Um curso de bebês.

- O segundo sábado será sobre os cuidados com o bebê, até ele completar um aninho – a moça me explicava por telefone.

Ai, meu Santo Cristo. Um aninho.

- Vamos ensinar como dar banho... Será usada uma boneca como modelo.

Ai, Jesus. Uma boneca como modelo. Já estou me vendo afogando a tal boneca na banheira - e as outras futuras mamães me lançando olhares de reprovação, olha lá a falta de jeito em pessoa, coitada, desastrada, estabanada, mal consegue dar banho na boneca-modelo, o que será da filha? E eu confundindo o bebê com o sabonete, esfregando o maior no menor, a água espirrando, a criança pulando para fora da banheira enquanto eu tento pescá-la no ar pelo pescoço, inutilmente, entre risadas espasmódicas e franco desespero.

- Rá!! Te peguei!

Peguei nada. Agora a boneca-modelo, ainda mais contrariada, já foi parar no colo do marido alheio, um bigodudo de bermudas floridas e unhas mal cortadas que veio do Panamá tocar percussão numa banda chinfrim e se encantou pela loira rebolativa que bebia cerveja quente na primeira mesa, ela piscava porque tinha cacoete mesmo, mas ele achou que era paquera e lhe pagou uma casquinha de siri – pronto, deu no que deu.

Povo engravida pelos mais variados motivos, impressionante.

Está bem, dá para perceber que estou me sentindo um pouco ansiosa. É verdade. Hoje liguei para a minha mãe.

- Tô ficando histérica.

- Calma, filha. Uma coisa de cada vez. É só organizar os pensamentos.

- Tá.

Pausa.

- Mãe... Agora estou histérica em ordem alfabética. Resolveu muito, não.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Dois anos: a primeira travessura

É de lascar. Hoje nós duas tomamos o café normalmente. Quando a babá chegou, ela quis sair da cadeira e fazer uma farra. Mas a babá precisava trocar de roupa, e ela já ia correndo atrás quando eu disse:

- Filha, vem cá que a mamãe quer te mostrar uma coisa no...

E ela, agarrada às pernas da Tina:

- Minha mamãe é a Tina!!!

Assim, na lata. Pobre da Tina, levou um susto e foi logo se explicando: “eu nunca disse isso a ela!”. E eu sei que não faria mesmo.

Menina, menina. Mal você fez dois anos e já me apronta essa. Se eu não tivesse acordado com um ótimo humor, se não tivesse dormido as regulares 8 horas, se meus hormônios estivessem enfrentando aquela ordinária situação mensal que todas nós conhecemos... Provavelmente, eu estaria desabafando no blog, em tons pastéis humorísticos, como se tudo isso não passasse de gaiatice literária numa manhã de terça-feira torta.

Filho é assim, quase uma questão fisioterápica. A gente estica e puxa para andar reta, na medida do possível, porque o solavanco é tão imprevisível quanto certeiro. Que mais?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Dois anos. Que mais?

Filha

Fiquei pensando no que eu queria te dizer nesse aniversário de dois anos, mas que hoje você ainda não entenderia.

Não sei o que dizer. Tudo que é importante na vida você já conhece – o amor, o afeto, a alegria. Até de dor você já entende; sentiu no pezinho, depois uma picada no bumbum, pressão no dentinho, e quando algum de nós saiu de casa e não deu para levar você junto. Soprou, passou, depois veio outra vez. E soprou, passou, de novo. Que mais?

“Que mais?” – é assim que você pergunta quando alguém diz qualquer coisa pela qual você se interessa. “Que mais?”, e a fantasia começa a desfilar seus blocos infinitos.

Você já sabe andar, falar, pular, correr, pedir, reclamar, protestar, gritar, comer com a colher e beber água no copo. Que mais? Já andou desenhando as suas baleias. Regeu alguns concertos (na TV) com seu pai, escreveu diálogos no computador com a sua mãe.

“Que mais?” – esse é o seu jeito de não acabar, de não romper o contato, não aceitar um ponto final. Se posso dizer alguma coisa importante, digo logo: conserve a curiosidade e o desejo de conhecer, descobrir, ir adiante, sempre além. Que mais? Que mais?